terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quando alguém se mete na sua vida

Ontem, meu marido e eu fomos ao show da Amy na Arena Anhembi. Fomos convidados para um camarote e, como eu gosto da Amy, voltamos das nossas férias no litoral só pra ver o show em São Paulo.

Recebi o convite em casa, os cartões, tudo certo. Junto com o kit vinha uma carta dizendo que a entrada seria pelo portão 25.

Pegamos um táxi e fomos. O motorista não sabia direito como chegar e pegou o pior caminho. Uma parte do congestionamento era esperada e o taxista nem teve culpa. Mas a `vibe` entre nós ele não estava bacana. Acabamos descendo do táxi bem antes e resolvemos ir a pé mesmo.

Fomos andando a partir do portão 19, rumo ao 25, número que estava escrito na carta. Ao chegar lá encontramos o portão fechado, com uma pequena fresta aberta e um segurança dentro. Encostada no portão fechado, uma mulher.

O segurança, atrás do portão, falou pela fresta que eu não poderia entrar pelo portão 25. Perguntei por quê. Ele disse que era só para deficientes físicos e artistas. Estranhei, porque eu tinha uma carta em meu nome dizendo que era para entrar por lá. Eu posso entrar por qualquer portão, não tenho preferência por nenhum. Apenas achei que seguindo as instruções eu estaria fazendo a coisa certa. Eu não estava lutando pelo portão 25.

O porteiro insistiu que eu não poderia entrar por lá, que alguma coisa havia mudado e que eu deveria procurar outro portão. O problema era... qual? Meu marido intercedeu e insistiu pra que ele nos deixasse entrar, já que estava escrito que era pra irmos por ali.

Foi nesse momento que, do nada, a moça encostada se intrometeu na conversa, sem ser chamada, dizendo assim?

- Você trabalha na TV e você (pro meu marido) é psiquiatra né? Não tão ouvindo que o porteiro disse que não é pra entrar, então vão embora!

Meu marido ficou indignado. Quem era aquela moça? Quem chamou a moça pra conversa? Ele tentou falar com ela, quando a moça mandou esta:

- Escuta, vocês são deficientes? Se não são podem procurar outro portão. Me admira uma pessoa trabalhar na TV desse jeito... e um psiquiatra que se comporta assim...

Hã? Como? Eu não havia feito NADA, estava tentando apenas descobrir o portão certo! Um rapaz que passou disse pra eu ir pro credenciamento da imprensa. Mas eu não estava lá a serviço, como imprensa, estava como convidada. Era muita gente, uma certa confusão do lado de fora.

A mulher começou a BRIGAR com meu marido. Foi uma coisa patética. Ele perguntou se ela trabalhava no evento e ela disse que era de uma produtora. So? O porteiro nos mandou pro 28 e fomos até lá.

Chegando no portão 28, nove portões adiante de onde descemos (no 19), um rapaz gentilmente leu a carta e disse que deveríamos ir para o 20 ou falar no credenciamento.

Fomos para o credenciamento. Indicaram o 20 mesmo. Finalmente, no portão 20, tudo perfeito. Entramos, fomos levados numa van até o show, trocamos os cartões por pulseirinhas e tudo correu perfeitamente. Sem problemas. Nada como entrar pelo lugar certo.

Mas fiquei um tanto quanto abalada com a agressividade gratuita e, sobretudo, com a intromissão daquela mulher que não tinha nada com nossa vida. Meu marido então me disse:

- Você tem que aprender a lidar com isso e não se deixar abater, nem se humilhar, diante de gente assim. O que ela tem com sua vida ou minha vida? Eu sou psiquiatra, e daí? Isso é minha profissão e eu me comporto do jeito que eu bem entender!

Ele tem razão. Eu trabalho em comunicação e também me comporto como eu bem entender e assumo as consequências disso, como todo mundo. Eu não tenho que seguir um padrão de conduta x ou y, porque as pessoas esperam isso de um jornalista ou de qualquer outra profissão. Não é porque ela tem um padrão de comportamento esperado para "psiquiatras" e "pessoas da TV" que eu tenho que ser o que ela quer. Eu sou qualquer um, eu sou todo mundo, eu pergunto, eu me perco, eu bato boca, eu choro, eu me arrependo, eu brigo, eu procuro o portão, eu sigo as instruções. Eu estou aqui pra viver, pra aprender, compartilhar, pro que eu quiser e puder. E ninguém, encostada num portão, vai me dizer como nós dois temos que agir nesse mundo, do nada, sem querer ajudar, só pra encher o saco.

O porteiro tinha suas instruções, eu tinha uma carta com as minhas, as duas coisas não estavam batendo e a gente estava tentando negociar.Em nenhum momento eu briguei, ofendi ou fiz qualquer coisa com o porteiro, a gente só não estava chegando a um termo. Ela não fazia parte da negociação e não tinha que se intrometer daquele jeito. Se fosse pra ajudar, ela poderia ter dito, olha, eu posso ajudar em alguma coisa?

Ficou a lição pra mim. Ninguém tem o direito de dizer como você deve levar sua vida, porque a expectativa da outra pessoa é apenas e tão somente uma ilusão da cabeça dela. E eu não vivo com a cabeça dela, eu vivo com a minha. E olha que já me dá bastante trabalho.

Fonte:

Por Rosana hermann

http://noticias.r7.com/blogs/querido-leitor/